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sábado, 30 de novembro de 2013

Tribo de Jah

A história da Tribo de Jah iniciou-se na Escola de Cegos do Maranhão, onde se conheceram cinco músicos, sendo quatro deles cegos e um com visão parcial. Neste lugar viviam em regime de internato e lá começaram a desenvolver o gosto pela música, improvisando instrumentos e descobrindo timbres e acordes. Posteriormente, os amigos formaram uma banda e passaram a realizar shows nos bailes populares da capital e outras cidades do interior do estado, fazendo covers de seresta, reggae e lambada.
Nessa mesma época aportava na ilha Fauzi Beydoun - até então radialista - paulista da cidade de Assis, que trazia além da excentricidade do nome que sua descendência libanesa e italiana lhe conferia, um timbre de voz único, que conquistara o público da ilha.
O movimento do reggae crescia rapidamente no Maranhão e as famosas "radiolas" - potentes equipamentos de som que eram utilizados para festas de reggae em clubes da cidade - já tomava conta do cenário cultural local. Nesse meio tempo, Fauzi também foi dono de "radiola" e, carismático por natureza, tornara-se uma figura muito querida na cidade, o que o impulsionou a se aventurar num sonho antigo: montar uma banda de reggae.

Fauzi soube de alguém que estava vendendo os instrumentos de uma banda de baile, mas o que ele não sabia é que com a venda desses equipamentos, os músicos Frazão, Neto Enes, Aquiles Tabelo, João Rodrigues e Zé Orlando ficariam desempregados. Fauzi resolveu então convidá-los para partilhar um sonho ousado: montar uma banda de Reggae Roots. Convite aceito de cara. Começaria aí uma história de luta, superação e sucesso.
Fundada no ano de 1986, sem gravadora, sem dinheiro, sem referência nacional no estilo e com cinco músicos deficientes visuais, a Tribo de Jah levaria nove anos até conseguir gravar seu primeiro disco, "Roots Reggae" (1995), de forma totalmente independente. A essa altura, já haviam enfrentado graves dificuldades financeiras, vaias e outras barreiras que fizeram, por vezes, Fauzi e os amigos pensarem em desistir de seguir com a banda, o que para a sorte de nossa música, não aconteceu.
Logo no primeiro disco, o grupo maranhense mostrou a que vinha, emplacando sucessos consecutivos em rádios, sem nenhum investimento de "jabá" ou mídia televisiva. Canções como "Babilônia em Chamas", "Regueiros Guerreiros" e "Neguinha", mostravam todo o potencial criativo do grupo e destacava Fauzi como grande compositor, com canções que traduziam toda a mensagem do reggae de amor, paz e libertação das mentes, aliadas a letras poéticas e melodias pegajosas. Seria uma questão de tempo para uma plataforma muito comum nessa época, ajudar a difundir a música da Tribo pelo restante do país. A fita cassete seria a grande aliada na divulgação do Roots Reggae.
Porém ao contrário do que pensava a maioria das pessoas, o sucesso do grupo não trouxe, de imediato, o devido retorno financeiro e o reconhecimento no meio artístico que se imaginava. Fauzi acumulou muitas histórias de moradias precárias em São Paulo, canos de produtores, inclusive até em grandes compras dos seus discos, ou mesmo em shows com estruturas que chegavam a colocar em risco a integridade física da banda, mas o tempo passava e a cada disco que o grupo gravava, um público maior ainda era arrebatado pela boa energia, que ficava ainda mais evidente durante as apresentações ao vivo.
Vencidas as dificuldades, a Tribo de Jah estabelecia-se como uma das bandas mais importantes da música brasileira, conquistando discos de ouro, fazendo turnês no exterior e descobrindo novas, maneiras de sobreviver no mercado da era digital. Vale ressaltar também que a Tribo foi a primeira banda de reggae a incluir elementos da música nordestina em seus arranjos, gravações e composições.

Após esse sucesso conquistado no Brasil com shows que foram de Belém a Porto Alegre, passando pelo Canecão e Metropolitam no Rio de Janeiro e no Palace e Olímpia em São Paulo, partindo para uma série de turnês pelo exterior, participando de festivais como: Festival 'Bob Marley Day' em Los Angeles e San Diego, Festival Paris-Bercy na França e o Rototon Sunsplash na Itália, fez também duas apresentações realmente aclamadas no Festival de Jazz de Montreaux na Suíça e no principal palco reggae mundial, "Reggae Sunsplash Festival Jamaica", além de passar por cidades como Nova York, Tokio e Buenos Aires. A Tribo de Jah passou também por países inusitados onde o grupo jamais imaginou chegar, como Cabo Verde na África e Guiana Francesa. Em 2007 a Tribo apresentou dois shows em Londres com os ingressos esgotados antecipadamente para as duas noites que marcaram o pré-lançamento de seu CD para o mercado internacional.
Com a boa repercussão de seu trabalho no exterior, a Tribo resolveu inovar mais uma vez, lançando simultaneamente um CD em português, com o título "The Babylon Inside" e um em inglês, "Love To The World, Peace To The People". Com quase 20 anos de estrada nessa época e uma sólida carreira no Brasil, a expectativa da banda era de investir também no mercado exterior. Esses dois CDs tinham em comum 3 canções que foram compostas originalmente em inglês, além da faixa "The Little You Do", que no álbum "Babylon Inside" obteve uma versão em português com o título de "O Pouco a Fazer". No entanto, cada um refletindo um momento muito intenso e especial da banda, que mostrava indiscutivelmente a sua melhor forma.
Em 2011, prestes a completar 25 anos de carreira, a banda que já havia passado pelos mais diversos problemas, agora detinha o seu próprio escritório em São Paulo, produzia o seu próprio material promocional, realizava seus contatos com produtores de todas as partes do país, e partia para o projeto mais ousado de sua carreira: a gravação do DVD acústico, comemorando os seus 25 anos.

Nas palavras de Décio de Sá - músico, produtor e blogueiro que acompanhou e dirigiu trabalhos da Tribo de Jah:
"Como músico, tive o prazer de dividir o palco com esses queridos amigos em algumas oportunidades. Como produtor, também pude realizar shows da banda e, principalmente, uma belíssima palestra com o grupo na cidade de Fortaleza, onde eles contaram toda a história de luta e superação da banda. Foi um momento emocionante com uma plateia repleta de pessoas com algum tipo de deficiência e que queriam ver ou ouvir de perto, a história de como é possível realizar seus sonhos apesar de...
Porém, é sem nenhum pesar que o grupo relata, de forma bastante descontraída, toda sua experiência. Um momento que recomendo aos produtores e contratantes. Assim como o show maravilhoso, maduro e que traz em suas luzes e acordes, valores que vão além da música. Um show que conta algo sobre amizade, respeito, amor, superação e sonhos bem sonhados.
Ah! Quase esqueci de falar: a Tribo de Jah é a maior banda de reggae do Brasil! E sou eu quem está dizendo. Não é eleita por nenhuma gravadora, revista Cult, ou canal de TV. Está eleita por mim e por você.".


Essas são as palavras de um músico e produtor que evidenciam a admiração dele pela Tribo, mas que nos mostra realmente a dimensão do trabalho dessa grande banda de Roots Reggae, que superou todas as dificuldades que lhe foram impostas, e ajudou a expandir essa música e mensagem de amor e paz, políticas sociais e divinas pelo Brasil, partindo para voos mais altos pelo mundo afora. Vale ressaltar que a Tribo de Jah é a banda que deu o pontapé inicial desse estilo Roots Reggae no Brasil, já que não existiam outras referências no país naquela época, e abriu portas para que novas bandas viessem mais tarde, além de contribuir de forma significativa para que a cidade de São Luís do Maranhão fosse reconhecida como a "Jamaica Brasileira".
Só o fato de esses grandes músicos terem superado as suas deficiências, já é algo grandioso, que para muitos já seria um motivo para parar, mas eles foram além e superaram dificuldades maiores ainda que surgiram no caminho, não desistiram e conquistaram muito mais do que poderíamos imaginar, as suas histórias são exemplos de superação e sucesso, um motivo de orgulho.
Hoje a Tribo de Jah continua na estrada, com 27 anos de muitas histórias, superação, mensagens positivas, músicas da mais alta qualidade e um legado de respeito para a cultura reggae, brasileira e Mundial.

Fonte:
www.dropmusic.com.br/index.pgp/biografias/stuwxyz/1611-tribo-de-jah

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