A história da Tribo de Jah iniciou-se na Escola de Cegos
do Maranhão, onde se conheceram cinco músicos, sendo quatro deles cegos e um
com visão parcial. Neste lugar viviam em regime de internato e lá começaram a
desenvolver o gosto pela música, improvisando instrumentos e descobrindo
timbres e acordes. Posteriormente, os amigos formaram uma banda e passaram a
realizar shows nos bailes populares da capital e outras cidades do interior do
estado, fazendo covers de seresta, reggae e lambada.
Nessa mesma época aportava na ilha Fauzi Beydoun - até
então radialista - paulista da cidade de Assis, que trazia além da
excentricidade do nome que sua descendência libanesa e italiana lhe conferia,
um timbre de voz único, que conquistara o público da ilha.
O movimento do reggae crescia rapidamente no Maranhão e
as famosas "radiolas" - potentes equipamentos de som que eram
utilizados para festas de reggae em clubes da cidade - já tomava conta do
cenário cultural local. Nesse meio tempo, Fauzi também foi dono de
"radiola" e, carismático por natureza, tornara-se uma figura muito
querida na cidade, o que o impulsionou a se aventurar num sonho antigo: montar
uma banda de reggae.
Fauzi soube de alguém que estava vendendo os instrumentos
de uma banda de baile, mas o que ele não sabia é que com a venda desses
equipamentos, os músicos Frazão, Neto Enes, Aquiles Tabelo, João Rodrigues e Zé
Orlando ficariam desempregados. Fauzi resolveu então convidá-los para partilhar
um sonho ousado: montar uma banda de Reggae Roots. Convite aceito de cara.
Começaria aí uma história de luta, superação e sucesso.
Fundada no ano de 1986, sem gravadora, sem dinheiro, sem
referência nacional no estilo e com cinco músicos deficientes visuais, a Tribo
de Jah levaria nove anos até conseguir gravar seu primeiro disco, "Roots
Reggae" (1995), de forma totalmente independente. A essa altura, já haviam
enfrentado graves dificuldades financeiras, vaias e outras barreiras que
fizeram, por vezes, Fauzi e os amigos pensarem em desistir de seguir com a
banda, o que para a sorte de nossa música, não aconteceu.
Logo no primeiro disco, o grupo maranhense mostrou a que
vinha, emplacando sucessos consecutivos em rádios, sem nenhum investimento de
"jabá" ou mídia televisiva. Canções como "Babilônia em
Chamas", "Regueiros Guerreiros" e "Neguinha",
mostravam todo o potencial criativo do grupo e destacava Fauzi como grande
compositor, com canções que traduziam toda a mensagem do reggae de amor, paz e
libertação das mentes, aliadas a letras poéticas e melodias pegajosas. Seria
uma questão de tempo para uma plataforma muito comum nessa época, ajudar a
difundir a música da Tribo pelo restante do país. A fita cassete seria a grande
aliada na divulgação do Roots Reggae.
Porém ao contrário do que pensava a maioria das pessoas,
o sucesso do grupo não trouxe, de imediato, o devido retorno financeiro e o
reconhecimento no meio artístico que se imaginava. Fauzi acumulou muitas
histórias de moradias precárias em São Paulo, canos de produtores, inclusive
até em grandes compras dos seus discos, ou mesmo em shows com estruturas que
chegavam a colocar em risco a integridade física da banda, mas o tempo passava
e a cada disco que o grupo gravava, um público maior ainda era arrebatado pela
boa energia, que ficava ainda mais evidente durante as apresentações ao vivo.
Vencidas as dificuldades, a Tribo de Jah estabelecia-se
como uma das bandas mais importantes da música brasileira, conquistando discos
de ouro, fazendo turnês no exterior e descobrindo novas, maneiras de sobreviver
no mercado da era digital. Vale ressaltar também que a Tribo foi a primeira
banda de reggae a incluir elementos da música nordestina em seus arranjos,
gravações e composições.
Após esse sucesso conquistado no Brasil com shows que
foram de Belém a Porto Alegre, passando pelo Canecão e Metropolitam no Rio de
Janeiro e no Palace e Olímpia em São Paulo, partindo para uma série de turnês
pelo exterior, participando de festivais como: Festival 'Bob Marley Day' em Los
Angeles e San Diego, Festival Paris-Bercy na França e o Rototon Sunsplash na
Itália, fez também duas apresentações realmente aclamadas no Festival de Jazz de
Montreaux na Suíça e no principal palco reggae mundial, "Reggae Sunsplash
Festival Jamaica", além de passar por cidades como Nova York, Tokio e
Buenos Aires. A Tribo de Jah passou também por países inusitados onde o grupo
jamais imaginou chegar, como Cabo Verde na África e Guiana Francesa. Em 2007 a
Tribo apresentou dois shows em Londres com os ingressos esgotados
antecipadamente para as duas noites que marcaram o pré-lançamento de seu CD
para o mercado internacional.
Com a boa repercussão de seu trabalho no exterior, a
Tribo resolveu inovar mais uma vez, lançando simultaneamente um CD em
português, com o título "The Babylon Inside" e um em inglês,
"Love To The World, Peace To The People". Com quase 20 anos de
estrada nessa época e uma sólida carreira no Brasil, a expectativa da banda era
de investir também no mercado exterior. Esses dois CDs tinham em comum 3
canções que foram compostas originalmente em inglês, além da faixa "The
Little You Do", que no álbum "Babylon Inside" obteve uma versão
em português com o título de "O Pouco a Fazer". No entanto, cada um
refletindo um momento muito intenso e especial da banda, que mostrava indiscutivelmente
a sua melhor forma.
Em 2011, prestes a completar 25 anos de carreira, a banda
que já havia passado pelos mais diversos problemas, agora detinha o seu próprio
escritório em São Paulo, produzia o seu próprio material promocional, realizava
seus contatos com produtores de todas as partes do país, e partia para o
projeto mais ousado de sua carreira: a gravação do DVD acústico, comemorando os
seus 25 anos.
Nas palavras de Décio de Sá - músico, produtor e
blogueiro que acompanhou e dirigiu trabalhos da Tribo de Jah:
"Como
músico, tive o prazer de dividir o palco com esses queridos amigos em algumas
oportunidades. Como produtor, também pude realizar shows da banda e,
principalmente, uma belíssima palestra com o grupo na cidade de Fortaleza, onde
eles contaram toda a história de luta e superação da banda. Foi um momento
emocionante com uma plateia repleta de pessoas com algum tipo de deficiência e
que queriam ver ou ouvir de perto, a história de como é possível realizar seus
sonhos apesar de...
Porém, é sem
nenhum pesar que o grupo relata, de forma bastante descontraída, toda sua
experiência. Um momento que recomendo aos produtores e contratantes. Assim como
o show maravilhoso, maduro e que traz em suas luzes e acordes, valores que vão
além da música. Um show que conta algo sobre amizade, respeito, amor, superação
e sonhos bem sonhados.
Ah! Quase
esqueci de falar: a Tribo de Jah é a maior banda de reggae do Brasil! E sou eu
quem está dizendo. Não é eleita por nenhuma gravadora, revista Cult, ou canal
de TV. Está eleita por mim e por você.".
Essas são as palavras de um músico e produtor que
evidenciam a admiração dele pela Tribo, mas que nos mostra realmente a dimensão
do trabalho dessa grande banda de Roots Reggae, que superou todas as
dificuldades que lhe foram impostas, e ajudou a expandir essa música e mensagem
de amor e paz, políticas sociais e divinas pelo Brasil, partindo para voos mais
altos pelo mundo afora. Vale ressaltar que a Tribo de Jah é a banda que deu o
pontapé inicial desse estilo Roots Reggae no Brasil, já que não existiam outras
referências no país naquela época, e abriu portas para que novas bandas viessem
mais tarde, além de contribuir de forma significativa para que a cidade de São
Luís do Maranhão fosse reconhecida como a "Jamaica Brasileira".
Só o fato de esses grandes músicos terem superado as suas
deficiências, já é algo grandioso, que para muitos já seria um motivo para
parar, mas eles foram além e superaram dificuldades maiores ainda que surgiram
no caminho, não desistiram e conquistaram muito mais do que poderíamos
imaginar, as suas histórias são exemplos de superação e sucesso, um motivo de
orgulho.
Hoje a Tribo de Jah continua na estrada, com 27 anos de
muitas histórias, superação, mensagens positivas, músicas da mais alta
qualidade e um legado de respeito para a cultura reggae, brasileira e Mundial.
Fonte:
www.dropmusic.com.br/index.pgp/biografias/stuwxyz/1611-tribo-de-jah
Nenhum comentário:
Postar um comentário