Como se já não bastasse o descaso com a saúde pública,
educação e outros tantos problemas que exaustivamente citamos que a população
enfrenta nesse país, além dos inúmeros casos de corrupção que têm se revelado
nos últimos anos em nosso país, onde os principais envolvidos são
parlamentares, empresários e dirigentes de importantes cargos públicos. A gota
d'água foi nessa última semana, quarta feira 28 de agosto de 2013. Quando a
Câmara dos Deputados decidiu manter o mandato de um deputado condenado por formação
de quadrilha e peculato, e já preso por desviar 8,4 milhões de reais dos cofres
públicos, o deputado Natan Donadon.
"Em um momento de humilhação da democracia,
deputados transformaram uma cela em extensão do Parlamento — e o Parlamento,
por consequência, na extensão de uma penitenciária". - Robson Bonin -
Veja|4 de setembro.2013
Uma decisão insana que só faz degradar ainda mais a
imagem dos parlamentares desse país. Quando eles tiveram a chance de mostrar um
pouco de decência, dignidade, de honestidade, eles fizeram o contrário.
Mostrando que não estão nenhum pouco preocupados com a voz das ruas, que
recentemente parou esse país. É vergonhosa a forma como as coisas acontecem no
Brasil.
— O GABINETE 595 DO
CONGRESSO NACIONAL (Veja, 4 de setembro. 2013)
[...] Destinado a ser esquecido rapidamente por sua atuação miúda no baixo clero da Câmara, o deputado Natan Donadon saiu da sua cela na penitenciária da Papuda para entrar na história pela porta dos fundos. Seu mandato de deputado foi preservado em uma sessão secreta que ignorou seus crimes, chancelados, então, como atividades compatíveis com o ofício de parlamentar, contra cujo decoro eles não depõem. Nos anos 90, Donadon e o irmão, Marcos, desviaram 8,4 milhões de reais dos cofres da Assembleia Legislativa de Rondônia. Marcos era o presidente da Câmara. Donadon, o diretor financeiro. Com a ajuda de empresários, os irmãos forjavam pagamentos e dividiam os lucros entre o grupo. Há dois meses, Donadon tornou-se o primeiro parlamentar encarcerado no exercício do mandato desde a Constituição de 1988, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a treze anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha e peculato. A evolução óbvia, dotada pela ética mais comezinha e pelo bom-senso, seria a cassação de seu mandato. Mas deu-se o inesperado. Donadon continuou dono de seu mandato de deputado por decisão de seus colegas. […]
Manter como deputado federal um ladrão condenado e preso seria um suicídio moral para qualquer Parlamento, em qualquer democracia. Mas o que são os olhos do mundo quando se tem o coração dos colegas? "Esse discurso sensibilizou muita gente", solidarizou-se o deputado gaúcho Sérgio Moraes (PTB-RS), aquele que um dia disse que se lixava para a opinião pública. Quando Donadon deixou a tribuna, já estava absolvido. Parlamentares mais experientes sentiam no ar o que se prenunciava. Havia 469 deputados em plenário quando a votação foi iniciada. Discretamente, parte deles foi deixando o plenário, forma clássica de fugir da responsabilidade de lavar as mãos em relação ao caso, de ajudar a absolver o colega por omissão. Votaram apenas 405 deputados. Destes, 233 a favor da cassação e 131 contra, e houve 41 abstenções.
Eram necessários, no mínimo, 257 votos para consumar a perda de mandato —
faltaram 24. Na frente das câmeras, Donadon então se ajoelhou e rezou com as
mãos para cima. Por uma intervenção que ele considerou divina, seus colegas o
promoveram à história. Para Donadon, a decisão da Câmara abriu a possibilidade
de consegui na Justiça autorização para frequentar as sessões durante o dia e
voltar ao presídio à noite. A medida faria com que ele continuasse com o
salário de 26 723 reais e ainda tivesse a chance de, em tese, contratar os
próprios companheiros de cela como assessores — se um condenado pode ser
deputado, por analogia também um detento poderia assumir o cargo de assessor.
[…]
Embora difícil de imaginar — e de acreditar —, a Câmara dos Deputados abriu
caminho para que Natan Donadon seja apenas o primeiro híbrido de parlamentar e
presidiário no Brasil. Outros quatro deputados, os mensaleleiros condenados
pelo Supremo Tribunal Federal a penas de prisão, podem se juntar ao pioneiro
que levou os colegas às lágrimas na semana passada. Essa, digamos, Bancada da
Papuda, não por coincidência, teve papel preponderante no desfecho da votação
que preservou o mandato de Donadon. O painel mostrou que 108 deputados deixaram
de votar na sessão. Desse total cinquenta estavam no plenário, mas preferiram
não se posicionar. De olho no caso idêntico dos mensaleiros Jose Genoino (SP) e
João Paulo Cunha (SP), o PT comandou o boicote, seguido pelo PMDB, ex-partido
de Donadon, e pelo PP do mensaleiro Pedro Henry (MT). As três bancadas juntas,
por omissão, deixaram de computar 50 votos, o que acabou beneficiando o colega já
preso. De certa forma, foi uma homenagem prestada ao que já está preso por
aqueles que logo estarão.
(Capa da Veja, 4 de setembro. 2013) |
[...] Destinado a ser esquecido rapidamente por sua atuação miúda no baixo clero da Câmara, o deputado Natan Donadon saiu da sua cela na penitenciária da Papuda para entrar na história pela porta dos fundos. Seu mandato de deputado foi preservado em uma sessão secreta que ignorou seus crimes, chancelados, então, como atividades compatíveis com o ofício de parlamentar, contra cujo decoro eles não depõem. Nos anos 90, Donadon e o irmão, Marcos, desviaram 8,4 milhões de reais dos cofres da Assembleia Legislativa de Rondônia. Marcos era o presidente da Câmara. Donadon, o diretor financeiro. Com a ajuda de empresários, os irmãos forjavam pagamentos e dividiam os lucros entre o grupo. Há dois meses, Donadon tornou-se o primeiro parlamentar encarcerado no exercício do mandato desde a Constituição de 1988, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a treze anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha e peculato. A evolução óbvia, dotada pela ética mais comezinha e pelo bom-senso, seria a cassação de seu mandato. Mas deu-se o inesperado. Donadon continuou dono de seu mandato de deputado por decisão de seus colegas. […]
Manter como deputado federal um ladrão condenado e preso seria um suicídio moral para qualquer Parlamento, em qualquer democracia. Mas o que são os olhos do mundo quando se tem o coração dos colegas? "Esse discurso sensibilizou muita gente", solidarizou-se o deputado gaúcho Sérgio Moraes (PTB-RS), aquele que um dia disse que se lixava para a opinião pública. Quando Donadon deixou a tribuna, já estava absolvido. Parlamentares mais experientes sentiam no ar o que se prenunciava. Havia 469 deputados em plenário quando a votação foi iniciada. Discretamente, parte deles foi deixando o plenário, forma clássica de fugir da responsabilidade de lavar as mãos em relação ao caso, de ajudar a absolver o colega por omissão. Votaram apenas 405 deputados. Destes, 233 a favor da cassação e 131 contra, e houve 41 abstenções.
(Donadon olhando resultado no Painel da Câmara) |
(Natan Donadon ajoelhado após absolvição pela Câmara) |
Casos como esse deixam
incertezas e preocupações — será que os condenados do Mensalão continuarão em
seus cargos? — A sensação de impunidade continua, o descaso continua, nossas
vozes não estão sendo ouvidas. O povo agora pede pelo fim do voto secreto no
Congresso, apoiados por alguns parlamentares, inclusive o presidente da Câmara
Henrique Alves. Pois o voto secreto existe para garantir que parlamentares não
sejam alvos de ameaças e mantenham sua independência ao representar os
eleitores. Porém, é apenas mais uma ferramenta usada por nossos políticos para
salvar a própria pele e atender aos próprios interesses e de seus partidos. O
voto aberto não só fará com que os deputados sejam responsáveis por aquilo que
fazem no Congresso, mas também com que seja possível para nós exigir as
mudanças que queremos para o país.
Envergonhado pela situação, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique
Alves prometeu não colocar mais em votação nenhuma proposta de cassação até que
o fim do voto secreto seja votado. E na última terça feira 3 de setembro, o
presidente da Câmara anunciou que se reunirá com o presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, para discutir o caso do parlamentar
Natan Donadon. Na segunda feira, 2 de setembro, uma liminar dispensei a sessão
da Casa que manteve o mandato de Donadon. Henrique Alves anunciou ainda que vai
colocar em votação, em sessão extraordinária, a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) que põe fim ao voto secreto no Legislativo. Tudo isso é
muito bom, mas não apaga a desastrosa e vergonhosa decisão da Câmara de manter
o mandato de um deputado condenado e preso.
O voto aberto será mais uma vitória do povo, da ética, onde será mais difícil que casos como
vergonhosos como o de Natan Donadon volte a se repetir, pois não
é a primeira vez, já que ano passado, vimos o inimaginável acontecer quando -
graças a seus colegas - a deputada Jaqueline Roriz, guardem mais esse nome, foi
flagrada em vídeo colocando na bolsa dinheiro de corrupção, e mesmo assim foi
absolvida pelo Congresso, escapando da cassação graças ao voto secreto. É a
mesma velha história em que nos fazem de palhaços. Um ladrão condenado ser
absolvido foi a gota d'água. As coisas precisam mudar, a nossa Constituição
precisa mudar, o domínio da corrupção e a impunidade não pode mais ser aceita
pelo povo.
(Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados) |
O voto aberto será mais uma vitória do povo, da ética, onde será mais difícil que casos como
(Jaqueline Roriz, absolvida pela Câmara em 2012)) |
(Protestos contra a impunidade e pedindo mensaleiros na prisão) |
Fonte:
Veja/ 4 de setembro. 2013/ O GABINETE 595 DO CONGRESSO
www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=506737
Nenhum comentário:
Postar um comentário